Quando, para a semana-santa de 2005, a Prof. Ilza Nogueira me pediu que fizesse um libreto em versos de cordel, para que ela criasse o Oratório Via-Sacra, estas foram as estrofes para a Sexta-Estação, que ela apresentou com uma transcriação da música do espanhol Manuel de Falla:
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SEXTA ESTAÇÃO – Verônica Enxuga o Rosto de Jesus
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Aquele lance, em tourada,
em que o matador passa a capa
na cara do touro negro,
e a sua visão lhe tapa,
Verônica tem como nome,
fazê-lo faz o renome
do toureador que lhe escapa.
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As bandarilhas, que aos pares,
finca no dorso do touro,
além de irritá-lo o enfraquecem,
o sangue desce no couro.
E o picador, a cavalo,
vem ainda mais torturá-lo,
no ritual do agouro.
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Pras multidões, tais violências
têm suas razões, sutilezas.
Verônica é um mistério
que vem de mais profundezas,
pois não está no Evangelho
e é talvez bem mais velho,
daí, talvez a estranheza.
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É “Vera icone” a origem
do nome, veja a beleza:
é “verdadeira imagem”
que quer dizer, com certeza.
E aí está, na via-sacra,
nesse silêncio que lacra
o seu segredo e incerteza.
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Parece que o rosto em sangue
que se fixou no tecido
é um místico signo incerto
pois nunca foi exibido.
E esta estória na História
jamais será tão simplória
que tenha o lacre partido.