A poeira da estrada grudava na minha pele, o sol castigava, mas a imagem dela dançando no picadeiro me impulsionava. Eu, filho do prefeito de Carnaúba dos Dantas, troquei a sombra dos mandacarus pela vastidão do sertão, guiado por um amor fugaz e uma esperança teimosa.
Lembro da noite em que seus olhos encontraram os meus, brilhando sob as luzes coloridas do circo. A música pulsava, o cheiro de algodão doce se misturava ao suor dos artistas, e ela, com seus movimentos graciosos e sorriso enigmático, me enfeitiçou.
Naquela noite, ela me amou com a intensidade de quem sabe que a despedida é iminente. Seus beijos tinham gosto de aventura, seus abraços, a urgência de quem precisa partir antes do amanhecer.
Quando o circo se foi, restou o vazio e a certeza de que precisava encontrá-la. Enfiei os pés na poeira da estrada, sem rumo certo, apenas a lembrança de um olhar e a promessa de um reencontro.
Mossoró, a cidade grande, me engoliu com suas ruas movimentadas e construções imponentes. Procurei por ela em cada esquina, em cada bar, em cada circo mambembe que encontrava pelo caminho.
A cada dia, a esperança diminuía, mas a teimosia crescia. Eu, o filho do prefeito, me tornei um andarilho, um fantasma que assombrava as ruas de Mossoró, em busca de um amor que talvez nunca existisse.
Uma noite, encontrei um velho palhaço, sentado em um banco de praça, com o rosto pintado e o olhar cansado. Contei minha história, a busca incessante por uma dançarina de circo.
O palhaço sorriu, um sorriso triste e sábio. "Meu jovem", disse ele, "o amor é como um número de circo, uma ilusão que nos encanta por um instante, mas que logo se desfaz".
Suas palavras me atingiram como um soco. A ficha caiu, a ilusão se dissipou, e eu me vi diante da realidade: um tolo apaixonado, perdido em uma cidade estranha, em busca de um sonho impossível.
Voltei para Carnaúba dos Dantas, com a poeira da estrada grudada na alma e a amargura da desilusão no coração. O filho do prefeito retornou, mas o andarilho que partiu nunca mais seria o mesmo.