quarta-feira, 19 de novembro de 2025

o terror soviético é como o terror de Moraes

》Na União Soviética dos anos 30, a lealdade podia durar menos que um suspiro.
E nenhum exemplo ilustra melhor essa época de sombras do que a história de Henrikh Yagoda, chefe da NKVD, e de sua esposa, Ida Averbakh.

Ida não era uma figura menor. Intelectual, militante convencida do projeto soviético, em 1936 escreveu uma frase que hoje ressoa com um eco trágico:
“O GULAG é um meio ideal para transformar a pior matéria humana em construtores ativos do socialismo”.

Um ano depois, o mesmo sistema que ela defendeu declarou-a inimiga do povo. Ela foi presa, enviada para o GULAG e executada com um tiro na nuca.
A “reeducação” que tanto havia elogiado tornou-se a sua sentença.

Mas por trás da queda estava a queda ainda mais barulhenta do seu marido.

Henrikh Yagoda — procurador implacável, responsável direto por milhares de detenções, torturas e condenações a campos de trabalho — cometeu um erro fatal:
ser útil apenas até o dia em que Estaline deixou de precisar.

Tudo explodiu depois de um episódio quase absurdo. Máximo Gorki, o escritor mais influente do regime, pediu permissão para viajar para Itália por razões de saúde. A chamada chegou ao Kremlin em um tom que Estaline considerou insolente.

A resposta do líder foi um lembrete frio disfarçado de metáfora:
um avião chamado “Máxim Gorki” tinha caído porque “voava muito alto”.

A mensagem era clara:
o escritor também estava voando onde não devia.

Estaline ligou então para Yagoda e ordenou-lhe "cupar-se de Gorki".
Logo depois, o escritor adoeceu e morreu.
Naquela época, as coincidências eram muito precisas para serem coincidências.

E como sempre acontecia no círculo do poder estalinista, uma vez cumprida a função, o executor tornou-se um futuro executado.

A queda de Yagoda foi tão teatral quanto cruel.
Estaline acusou-o de traição, conspiração e espionagem — acusações que ele próprio tinha usado contra milhares —
e ordenou que testemunhasse a execução de catorze condenados antes de enfrentar a sua.

Era o tipo de ironia que definia o terror.

Ida e Yagoda, figuras centrais do aparelho repressivo, desapareceram em 1937 sem que restasse nenhuma memória oficial ou funerais, apenas um buraco nos arquivos e um aviso silencioso:
No grande projeto soviético, ninguém estava seguro, nem mesmo aqueles que o tinham construído com medo.

Hoje, quando alguns evocam com saudade a União Soviética, é impossível não lembrar destas histórias.
Porque além dos discursos, planejamento e propaganda, houve vidas quebradas, famílias destruídas e um país inteiro governado pelo medo.

Uma época onde o poder podia levantar impérios...
e apagá-los com o mesmo traço.