sexta-feira, 18 de abril de 2025

Sinos que dobram a meta

OS SINOS DE CAJAZEIRAS NÃO DOBRAM MAIS. O último grande repicar de sinos que ouvi em Cajazeiras, foi na morte do papa João Paulo II. Fiquei emocionado. O som do sino da Catedral se encontrava com o da Matriz de Nossa Senhora de Fátima. Raimundo Leandro Vieira, Dodô, que por décadas foi sacristão da Igreja Matriz, se esmerou ao badalar o sino mais antigo da cidade, cujo toque anunciava que havia falecido alguém.

Desde criança, tive fascínio por som de sinos, quando fazia questão, durante o novenário na Capela de Nossa Senhora Aparecida, no Distrito de Engenheiro Avidos, de chegar primeiro, para de posse da corda, puxar o badalo, bater o sino e chamar o povo para rezar. Flagrantes da infância que ainda guardo na memória.

O SINO, que sempre cantou mais triste é o de CEMITÉRIO CORAÇÃO DE MARIA, inaugurado em 1866. Poucas famílias procuram manter a tradição de na hora do sepultamento de seus entes queridos, mandarem o coveiro repicar o sino com dobrados fúnebres, principalmente, na hora em que o corpo vai entrando na alameda principal do cemitério, como se fora uma recepção musical e ao mesmo tempo, anunciar aos céus a sua chegada à última e derradeira morada.

O tocar dos sinos dá uma pompa e uma beleza toda especial a um sepultamento. Lembro-me de seu David, o velho coveiro do Coração de Maria, que com suas mãos fazia o sino dar sinais de lamentos e tristezas, sua sonoridade tocava a alma e o sentimento de todos que participavam do cortejo fúnebre. HOJE, OS SINOS NÃO DOBRAM MAIS.

Os sinos da cidade não servem apenas para anunciar que está próximo o início da missa, más também, para festejar, a exemplo do dia do anúncio da nomeação de Dom Matias Patrício de Macedo, como bispo de nossa diocese, como também de Dom José Gonzalez Alonso. Todos os sinos se “manifestaram”. E quando acontece um fato desta natureza, a cidade se indaga e a noticia se espalha de boca em boca, igual ao som dos sinos que rasga o silêncio da urbe.

Desconheço registros sobre a história do sino da Matriz de Nossa Senhora de Fátima, que dobra. O da Catedral de Nossa Senhora da Piedade, tenho registro sobre um segundo sino, pesando 60 quilos e foi adquirido por Monsenhor Vicente Freitas, ao Senhor Moisés Tomaz Bispo, Vila Nova, da cidade de Juazeiro do Norte (CE), que serve para bater as horas do relógio da torre da catedral, cuja montagem começou no dia 14 de julho de 1967 e foi inaugurado festivamente no dia 05 de setembro de 1967, que custou, junto com o relógio, a importância de CR$4.500,000,00. Monsenhor Vicente, junto com o Dr. Walter Sarmento de Sá, juiz de Direito da cidade, se dirigiram a todos os filhos e amigos de Cajazeiras, com um “livro de ouro” e arrecadaram CR$5.701.000,00. Com este dinheiro, foram pagos o sino e o relógio e com o restante foram colocados dispositivos e mancais nos dois outros para dobres fúnebres e festivos. Meu pai, seu Arcanjo, contribuiu com CR$250.000,00.

Parece até um sonho e uma forma de despertar dos nossos devaneios é com um glorioso badalar dos sinos de minha cidade e um deles, que teve importância fundamental na minha vida, foi o do Colégio Diocesano Padre Rolim, que durante cinco anos anunciava o início, os intervalos e o final das aulas. Recentemente fui ao velho colégio, aonde fiz meu curso ginasial, para vê-lo e lá estava ele, esperando que um dia alguém volte a badalá-lo.

Antigamente, se ouvia de todos os recantos da cidade os sinos da matriz e da catedral e do relógio, mas, hoje, com a poluição sonora dos veículos, dos carros de som e outros ruídos, poucos têm o privilégio de escutar as suas badaladas anunciando as mortes, as missas e as festividades. OS SINOS DE CAJAZEIRAS JÁ NÃO DOBRAM MAIS.
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POR: José Antônio de Albuquerque, diretor do Sistema Diário de Comunicação – Rádio Alto Piranhas e Jornal Gazeta do Alto Piranhas.
FOTO: DE WALTER COPPOLA