sábado, 7 de fevereiro de 2009

INDÚSTRIA MILITAR É O CÂNCER DA HUMANIDADE

LEIA ESTE ARTIGO DE MAURO SANTAYANA

A indústria militar e a exaustão do capitalismo

Mauro Santayana

Publicado há oito anos, quando a economia globalizada parecia vitoriosa, o estudo mais lúcido sobre a atual crise é o de Seymour Melman, After capitalism (Depois do capitalismo, na edição brasileira). Melman – que critica ao mesmo tempo o sistema capitalista do Ocidente e a experiência socialista – vai ao ponto principal: a sociedade industrial de nosso tempo perdeu-se na corrida armamentista. A partir dos Estados Unidos, o maior produtor de tecnologia e de instrumentos bélicos, o mundo passou a ser regido pelo medo do apocalipse.Ao lado dessa constatação, o professor de engenharia industrial na Universidade de Colúmbia retorna à tese marxista da alienação, ao examinar a queda do feudalismo e a transformação dos artesãos, que eram criadores do que produziam, em operários anônimos. O assunto, como se sabe, é bem tratado de forma teórica por Marx em seus Manuscritos econômicos e filosóficos, publicados em 1844, quatro anos antes do Manifesto comunista (1848) e 23 anos antes do primeiro volume de O capital (1867). A Revolução Industrial, sobretudo a partir da aceleração ocorrida na segunda metade do século 19, com a introdução de novas fontes de energia, e a conquista, pela força, dos mercados coloniais, com o saqueio de recursos naturais, fez com que se associassem os militaristas, os banqueiros e a burguesia manufatureira.

A produção militar norte-americana sufocou outros setores industriais. Sempre que houve a tentativa de conversão da indústria bélica à produção civil, os lobistas do complexo industrial militar, denunciado por Eisenhower, atuaram junto ao Poder Executivo e ao Congresso, para garantir seus interesses. As recentes revelações sobre a ação clandestina da CIA mostram que também a agência a eles se juntou, com atos de provocação que justificavam a competição militar durante a Guerra Fria. Melman aponta momentos críticos, nos quais a ação coordenada dos poderosos impediu a retomada da indústria de paz. Um deles ocorreu entre 1963 e 1964, quando já se planejava a guerra do Vietnã. Foi assim que se criou a famosa teoria do dominó, para justificar a invasão da Indochina.

A propósito do Vietnã, o autor transcreve trecho de uma carta de Ho Chi Min, de 16 de fevereiro de 1946, ao presidente Truman, pedindo que seu país fosse tratado como as Filipinas. "Como os filipinos, disse, nossa meta é a independência completa e ampla cooperação com os Estados Unidos". Esse documento, oculto do grande público, mostra que outras poderiam ter sido as relações entre os dois países e entre outras nações – se o poder corruptor da indústria militar não interviesse.

Calcula-se que o custo da capacidade militar excedente às suas necessidades, o chamado overkill, só nas armas nucleares, entre 1940 e 1996, tenha sido de 5 trilhões e 355 bilhões de dólares. Ao mesmo tempo, o custo de todas as fábricas e equipamentos da indústria manufatureira dos Estados Unidos era, em 1996, estimado em 1 trilhão e 481 bilhões de dólares.

A conclusão de Melman é a de que a corrida armamentista provocou o sucateamento da indústria pesada, da construção naval à siderurgia, enquanto novos polos de produção, como os da Alemanha e do Japão, se expandiam. Quase todos os economistas atribuem a rápida recuperação econômica dos japoneses e alemães à proibição de que produzissem armas e reconstruíssem seus exércitos. Desde a crise do petróleo, nos anos 70, o modelo de sociedade industrial como um todo começou a exaurir-se. O novo liberalismo se apresentou como "salvador" do sistema, mas se tratou de mero conluio entre bandidos, como os fatos revelam.

O livro cuida de outros assuntos, entre eles o da democratização das decisões nos centros de produção e de serviços, de forma a aliviar a alienação dos trabalhadores, e lhes proporcionar participação efetiva nas decisões políticas, a partir da base da sociedade. É uma visão otimista. Mas isso não parece viável em prazo hábil, quando até mesmo o projeto tímido de reformas, proposto por Obama, encontra a resistência dos poderes de fato dos Estados Unidos. Só a mobilização, permanente e decidida, dos cidadãos, poderá impor o mínimo de razão aos estados. Estamos sob a ameaça da ruptura dos frágeis liames da convivência social, com o desemprego e a explosão da miséria, e o desastre do aquecimento global, em consequência da demência generalizada. Só a razão política – esse raro atributo ético dos homens – nos poderá salvar. 

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